Segundo o HCMBOK® (Gonçalves e Campos, 2016), os processos de mudança são uma excelente oportunidade para inovar e, sobretudo, para provocar os diferentes stakeholders a deixar Status Quo no passado, romper paradigmas e promover o engajamento.
“A melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo”
< Alan Kay >
Quando pensamos em inovação devemos ter claro que é um processo em que algo novo é adicionado, seja um novo produto ou serviço, ou um incremento em algo já existente, que gere alto valor agregado. Isso implica, em muitas ocasiões, em uma mudança radical de paradigma.
O primeiro passo para a inovação é a criatividade e sua base está na viabilização do pensamento divergente que, segundo o psicólogo J. P. Guilford (1956), é útil para a geração de muitas ideias com o objetivo de encontrar uma solução para um possível problema ou fazer algo diferente.
A cocriação é definida como o desenvolvimento colaborativo de novas ideias que potencialmente gerem inovações. Isso pode se traduzir em resultados, entre outros, como: novos produtos, serviços, conceitos ou soluções para problemas.
A boa prática pede a reunião de vários stakeholders, com diferentes perfis, e em conjunto gerar a maior quantidade possível de ideias que sirvam de solução para uma questão claramente identificada. Os processos de cocriação valorizam a cooperação através da criatividade coletiva, e não a criatividade individual, que potencialmente, pode estimular a competição entre as pessoas envolvidas.
A prática sustentável da cocriação pode levar a organização a viver em ciclos de inovação incremental, onde a melhoria contínua passa a fazer parte da essência da cultura da organização. Ao mesmo tempo, pode estimular a geração de novos produtos e serviços que configurem diferenciais competitivos.
O líder da mudança deve ser o precursor da inovação, para que a organização não apenas esteja preparada para se adaptar às mudanças, mas para viver em estado contínuo de transformação.
Cocriação e geração de novos paradigmas
Os paradigmas são pensados como modelos mentais ou quadros de referência que influenciam a maneira como as pessoas percebem, pensam e agem.
Segundo Thomas Kuhn (1962) mudanças fundamentais na forma como as pessoas compreendem e explicam o mundo ocorrem quando um paradigma existente é substituído por um novo paradigma, mais abrangente, que contradiz crenças estabelecidas e engloba também fenômenos antes inexplicáveis.
A colaboração ativa e participativa de múltiplos stakeholders, dentro de um processo de cocriação, com perspectivas e conhecimentos diversos, pode desafiar crenças e pressupostos arraigados, possibilitando a criação de ideias e soluções disruptivas.
O líder de mudança pode e deve influenciar a cocriação de novos paradigmas através de diferentes práticas como:
- Incentive o pensamento divergente:
- Ao reunir stakeholders com diferentes origens e experiências, as abordagens convencionais podem ser desafiadas e novas formas de abordar diferentes problemas podem surgir.
- Desafie barreiras mentais:
- Os paradigmas existentes estão frequentemente associados à forma como pensamos sobre determinadas questões, gerando barreiras mentais. A cocriação pode ajudar a superar essas barreiras, facilitando a interação e o diálogo entre stakeholders com perspectivas diversas, permitindo que muitos paradigmas arraigados sejam questionados e redefinidos.
- Impulsione a inovação disruptiva:
- O desenvolvimento de soluções e ideias radicalmente novas que podem mudar fundamentalmente a forma como os problemas são abordados ou os produtos e serviços são oferecidos é a pedra angular da inovação disruptiva.
- Busque a experimentação e aprendizado:
- A cocriação oferece a oportunidade de experimentar e testar novas ideias em um ambiente inclusivo e seguro. Por meio da cocriação, os stakeholders podem aprender uns com os outros, experimentar e adaptar suas abordagens na medida que avançam.
- Estimule a integração de múltiplas perspectivas:
- A cocriação permite o foco em uma solução através da integração de múltiplas perspectivas. Ao combinar múltiplos conhecimentos e pontos de vista, soluções eficientes podem ser desenvolvidas.
- Patrocine a criação de ecossistemas colaborativos:
- A cocriação também pode incentivar a criação de ecossistemas colaborativos, onde diferentes stakeholders podem trabalhar juntos para resolver problemas complexos. Esses ecossistemas podem impulsionar ativamente a inovação e, acima de tudo, gerar novas formas de pensar e agir.
Os paradigmas são como lentes através da qual diferentes fenômenos são interpretados e fornecem uma base para a maneira como uma organização é operada e gerenciada. O desafio para o líder de mudanças é promover, nos stakeholders, a substituição dessas lentes por outras, que permitam adquirir novos modelos de operação e gestão organizacional.
Guia básico para um líder de mudança implementar processos recorrentes de cocriação:
- Identifique e foque no problema ou oportunidade:
- Defina claramente o que você quer explorar, por meio da cocriação. Este é o início certo do processo.
- Defina e mapeie objetivos e metas:
- Defina objetivos claros e mensuráveis para a cocriação e certifique-se de que todos os participantes os entendam.
- Identifique e mapeie os stakeholders:
- Defina os stakeholders que devem ser envolvidos no processo, sempre privilegiando a diversidade de perfis e perspectivas do problema ou oportunidade.
- Designe um facilitador:
- Defina uma pessoa especializada, que será encarregada de facilitar o processo de cocriação.
- Crie um ambiente inclusivo e de confiança:
- Proporcione segurança psíquica, onde todas as ideias e opiniões sejam acolhidas e respeitadas.
- Promova a geração de ideias e soluções:
- Estabeleça rituais com sessões criativas para gerar ideias e soluções inovadoras em colaboração com os stakeholders. O facilitador deve utilizar técnicas para aplicar processos que estimulem o pensamento divergente (geração de ideias) e convergente (análise, redefinição e priorização das ideias a serem desenvolvidas).
- Desenvolva protótipos e testes:
- Incentive o desenvolvimento de protótipos e experimentos, em ambientes controlados, de soluções cocriadas. Patrocine testes com diferentes stakeholders e busque feedbacks.
- Promova a Iteração e lapidação:
- Com base no feedback recebido, promova iterações (ciclos repetitivos) para melhorar as soluções até chegar a uma versão final, útil e otimizada.
- Implemente e avalie:
- Acompanhe a implementação da solução final e avalie, junto com a equipe, seu impacto e eficácia entre os stakeholders.
- Reconheça e recompense:
- Reconheça e recompense as contribuições dos participantes para promover seu compromisso contínuo com a cocriação e estimular a motivação.
Em resumo
Quando um líder de mudança estimula e acompanha a cocriação, facilita a interação de múltiplas perspectivas e habilidades que levam à geração de novos paradigmas e abordagens inovadoras. Ao reunir stakeholders com experiências, conhecimentos e perspectivas diversas, os paradigmas existentes podem ser desafiados e, assim, possibilitar possíveis mudanças em direção a soluções mais eficazes.
Além disso, o uso de processos de cocriação amplia o engajamento dos stakeholders, cujo DNA passa a ser parte das soluções desenvolvidas pelo projeto.
O líder de mudança precisa ter consciência de que a cocriação é uma forma de cultivar o comprometimento, incentivar a melhoria contínua e, acima de tudo, manter a organização conectada com a evolução do ambiente de negócio, para manter-se competitiva em seu mercado.
Por Edgar Alvarez – https://www.linkedin.com/in/edalv/ – Diretor do HUCMI para o Equador, Guatemala, Costa Rica, El Salvador, Nicarágua e República Dominicana.
Este artigo faz parte da série que explora o papel do líder de mudanças organizacionais. Sugerimos que você leia também o artigo que inicia esta série: https://gestaomudancas.com/o-papel-do-lider-na-disciplina-gestao-de-mudancas/
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